quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Somos professoras e professores, não somos criminosos!


Os ventos frios da ditadura, o fim das liberdades individuais e o autoritarismo estão soprando de forma cada vez mais forte e com mais frequência nestes últimos tempos. Temos que estar sempre atentos aos pequenos sinais, as manifestações aparentemente desimportantes, pois ali pode estar o germe do fascismo e da plutocracia mais nefasta...

A exemplo da UFMG e de outras Universidades pelo Brasil, a UEMG – Unidade Ibirité, a pedido de muitos estudantes, professores e técnicos administrativos, organizou nesta manhã de quinta-feira, uma roda de conversa sobre política e eleições no saguão do prédio principal, pois o auditório nos foi negado. O evento teve um caráter suprapartidário, onde o foco não eram especificamente as candidaturas, mas sim o processo como um todo.

Inicialmente, o prof. Antônio realizou uma fala esclarecedora a respeito do caráter democrático do bate papo, convidando a todos e todas para se expressarem, independente da corrente de pensamento que comungassem. Ele ainda realizou um breve histórico dos movimentos sociais, das definições de neo liberalismo, do consenso de Washington, Golpe de 64, entre outros assuntos históricos. Após a sua fala, outros professores, professoras e estudantes foram se inscrevendo e falando, cada um ao seu modo, mas todos incumbidos da tarefa problematizar questões gerais.

Desta forma, o bate papo se desenvolvia de forma tranquila e serena. Em um dado momento,  sr. Carlyle dos Passos Laia, da Diretoria de Planejamento Gestão e Finanças da Fundação Helena Antipoff, passa pelo meio da nossa roda e chama o prof. Emmanuel Almada para uma conversa em particular. Eles se afastam e eu os perco de vista. Poucos instantes depois, nos chega a notícia que o professore e o sr. Carlyle estavam em uma sala reservada, com dois policiais! Ou seja, este senhor chamou a polícia para lavrar um boletim de ocorrência, alegando que todos os presentes ao evento estavam cometendo uma ação ilegal! O que se seguiu a isto foi o fim da saudável conversa, e a aglomeração e uma série de manifestações, principalmente de estudantes, em frente à sala onde estava ocorrendo a sabatina.

Em conjunto, eu e o prof. Emmanuel decidimos que não iríamos assinar, nem contribuir para aquele boletim de ocorrência, pois nossa ação era de caráter acadêmico, e não político partidária. Portanto, não reconhecemos nenhum delito ou ilegalidade nesse sentido.

Passado este triste momento, gostaria de expressar minha indignação sobre o fato ocorrido. Até quando vão continuar criminalizando reuniões pacíficas de pessoas de bem? Se a Academia não pode ser o local do livre pensar, qual espaço será? Somos professores e professoras da Universidade do Estado de Minas Gerais. Merecemos mais respeito! Com que direito este sr. Carlyle nos coloca na vala comum da criminalidade e convoca a força policial para interpelar nossa roda de conversa? Fica-nos o gosto amargo de estarmos em um local emprestado, e com forças políticas estranhas a Universidade.

Um exemplo disso foi um dos debates com o sr. Carlyle, na sala com os dois policiais, quando eu afirmei que o que ocorria era um evento acadêmico. Por sua vez, ele encheu o peito para dizer que todo aquele espaço era da Fundação Helena Antipoff, não da UEMG! E que nós tínhamos que pedir a ele para fazer qualquer coisa! Tive inclusive que explicar aos educados policiais que aquele senhor não estava em canto algum da minha hierarquia institucional. Lamentável e vergonhoso...
Por fim, como professor e presidente da Associação dos Docentes da Universidade do Estado de Minas Gerais, gostaria muito que a Reitoria estabelecesse urgentemente a definição institucional referente ao espaço da Universidade. Tenho certeza que este é o desejo da imensa maioria dos docentes da Unidade.

Destarte, não penso ser precipitado exigir que o protagonista dessa ação ditatorial – prof. Carlyle, pessoa sem nenhuma sensibilidade com o meio acadêmico, seja imediatamente retirado de qualquer relação com a UEMG. Tornou-se, por este e outros motivos, insuportável sua presença em nossa Unidade.

Para formalizarmos isso, estaremos construindo um abaixo assinado exigindo o imediato afastamento deste senhor. Polícia se chama para criminoso, não para professores e professoras!

Deixo aqui minhas sinceras esperanças na construção de conhecimento com profundas marcas democráticas e Universitárias.



Atenciosamente, Prof. Roberto Kanitz


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